sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Tango

Percorria o salão com um sorriso nos lábios ao som daquele tango.

Sentia-se nas nuvens e rodopiava com altivez e orgulho como o tango exigia, como ela merecia.

Com ela nos seus braços, sentia-se a voar, indiferente a quem com eles compartilhava aquele espaço quente, pleno de vida e de paixão.

Agarrado a ela, fixando os olhos nos dela, perscrutando-lhe a alma, encostando o rosto no dela, dançavam "La Cumparsita", "Loca de amor", "Por una cabeza", e emanavam uma aura de felicidade que a todos ofuscava.

Ele apertava-a muito, desculpando-se com a paixão do tango mas, no fundo, agarrava-a como se tivesse medo de a perder.

Dançava sem parar, louco de amor e de paixão e nada o fazia abrandar. Tudo o resto tinha deixado de fazer sentido e aquela música, aquela dança, aquela mulher confundiam-se com a sua vida.

O calor do seu corpo, a doçura do seu sabor eram tudo o que ele queria sentir e viver e, ao dançar vivia, ao senti-la junto a si vivia, ela era a sua vida.

Passou a dançar de olhos fechados, mãos nas mãos, rosto no rosto, corpos entrelaçados para, assim, a sentir melhor, mais próxima, mais sua.

Um dia abriu os olhos e ela não estava lá. Estava tão enebriado, tão apaixonado que nem se apercebera que já não a tinha junto a si e que o calor que sentia, o perfume que o envolvia eram apenas memórias gravadas na sua alma e no seu coração.

Olhou à sua volta e… nada. Nenhum sinal dela. Estava só naquele salão há tão pouco repleto de vida e onde agora mais ninguém se encontrava. Sentiu um frio intenso percorrer-lhe o corpo.

Deixou cair os braços como quem desiste de viver, como quem se rende face ao destino e dirigiu-se para a porta. Olhou uma última vez para trás, apagou a luz e saiu.

Ainda ouviu, pela última vez, as palavras de Carlos Gardel: " Yo no quiero que nadie a mi me diga que de tu dulce vida tu ya me has arrancado"

1 comentário:

Helena disse...

Agressivo...como La Cumparsita!
Escreve...ao dançar vivia...
Vive-se como se dança o tango! O par aproxima-se ...por vezes violentamente, para se afastar de seguida (e fica mais bonito quando se afastam para longe)!
Escreva muito!
Quem lê, fecha os olhos e sente-se a dançar um tango!